A malha ferroviária brasileira tem evoluído, mas pode aprender muito com os outros países. O governo tem planos para ajudar a ampliar as linhas férreas com o apoio da iniciativa privada. Para isso, o Marco Legal, projeto sancionado no final de 2021, tem o objetivo de acelerar o crescimento do setor.
A Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) já conta com novos projetos ferroviários em fase de discussão. Vale ressaltar que o transporte pelas vias férreas teve um crescimento de 30,1% na comparação de 2021, com o mesmo período de 2020. Entretanto, nosso país ainda precisa evoluir bastante para acompanhar outras nações.
Nesse contexto, os padrões econômicos são o principal argumento para a proteção das ferrovias. A ferrovia não está exposta ao tráfego e há poucos acidentes, portanto não há perturbação. Outra característica dos trens é sua alta eficiência, pois emitem menos poluentes e são um meio de transporte com maior capacidade.
Por isso, neste artigo, apresentaremos uma visão atual da malha ferroviária no Brasil e sua diferença com outros países, assim como os seus desafios.
Panorama da situação atual da malha ferroviária
A malha ferroviária brasileira ainda não teve todo o seu potencial explorado para entregar os benefícios econômicos que promete.
Dado o tamanho absoluto do Brasil — em torno de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, é a quinta maior nação do mundo, atrás apenas da China — as vantagens potenciais de uma rede de carga ferroviária confiável e bem implementada têm sido claras por décadas.
Para fomentar o desenvolvimento da infraestrutura ferroviária, o já mencionado Marco Legal possibilita o investimento de empresas privadas.
Também conhecido como Lei das Ferrovias (Nº 14.273), incentivará a construção de mais linhas férreas mediante autorização do Governo. A experiência será a mesma vista em setores como o da energia elétrica e telecomunicações.
Além disso, tornará viável a revitalização e exploração de trechos ociosos ou em processo de devolução. Desde a proposta inicial do projeto, a intenção é desburocratizar e facilitar o crescimento das ferrovias de forma sustentável e ágil.
Importância no escoamento de produtos vitais à economia nacional
O transporte ferroviário de cargas já é variável em sua condição e impacto na distribuição de produtos internos, sendo um transporte sofisticado e mais competitivo, que conecta diversos tipos de veículos e impacta diretamente a economia brasileira.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de minérios, carvão, derivados de petróleo e produtos siderúrgicos. Entretanto, o que mais se destaca é sua produção de grãos.
Por isso, seu crescimento econômico está diretamente ligado ao escoamento desses produtos vitais.
Conforme a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o país poderá chegar a produção de 269,3 milhões de toneladas de grãos até o final de 2022.
Dessa forma, contar com uma infraestrutura modernizada, em uma malha ferroviária que atende diversas regiões do país é essencial para manter o escoamento de produtos indispensáveis, como os grãos.
Diferença entre a malha ferroviária brasileira e estrangeiras
Em cada país as ferrovias se desenvolveram de uma forma e isso influencia o transporte de cargas e seu desenvolvimento econômico.
Confira a comparação da malha ferroviária brasileira com outros países: EUA, China, Rússia, Canadá, Índia e Alemanha.
Volume de mercadoria transportado
Como mencionamos, vamos focar nos quatro países com maior extensão de vias férreas para fazer esse comparativo. Observe o volume de carga transportada:
EUA — os volumes de frete ferroviário nos Estados Unidos aumentaram desde 2016, atingindo 2,53 trilhões de quilômetros de tonelada em 2018. No entanto, esse número caiu novamente para 2,1 trilhões de toneladas em 2020.
China — o volume do tráfego ferroviário é calculado a partir do produto da carga transportada em toneladas métricas e da distância percorrida em quilômetros. Em 2020, o volume do tráfego ferroviário da China foi de 3,05 trilhões de toneladas de quilômetros.
Rússia — dados recentes indicam que o volume de transporte de cargas nas ferrovias russas foi de aproximadamente 2,5 trilhões de toneladas por quilômetros em 2020.
Canadá — o número de receita de frete ferroviário foi de cerca de 309,8 bilhões de toneladas no ano de 2020.
Brasil — o volume transportado em 2020 foi de 489 milhões de toneladas úteis (TU), queda de 1% na comparação com a movimentação do ano anterior.
Extensão da malha
Os países analisados têm as seguintes extensões de malhas ferroviárias:
- EUA – 295 mil km;
- China – 127 mil km;
- Rússia – 87.157 km;
- Canadá – 77.932 km;
- Brasil – 29 mil km.
Participação na matriz de transportes
De acordo com informações gerais da ANTF, a participação da malha ferroviária dos países correspondem as seguintes porcentagens:
- EUA – 27% ;
- China – 14% ;
- Rússia – 81% ;
- Canadá – 34% ;
- Brasil – 21%.
Conexão entre as linhas
A conexão entre as linhas férreas é outro fator que pode ser interessante para fomentar o desenvolvimento da malha ferroviária brasileira. Veja alguns dados:
EUA — indústria ferroviária de quase US$ 80 bilhões é operada por sete ferrovias classe I (ferrovias com receita operacional de US$ 490 milhões ou mais) e 22 ferrovias regionais e 584 de linha local/curta;
China — dos cerca de 141.400km, 36.000km são de linhas ferroviárias de alta velocidade (como a ferrovia Beijing-Zhangjiakou, inaugurada em 1909 e funcionando até a atualidade) e o país tem planos de chegar a 200 mil km até o final de 2035 para conectar ainda mais a enorme extensão territorial (9.596.961 km²);
Rússia — as 17 ferrovias russas conectam a região de São Petersburgo com a Ferrovia de Vladivostok (Ferrovia do Extremo Oriente) e com as linhas férreas de Sacalina e Kaliningrado;
Canadá — cerca de 36 ferrovias curtas e regionais operam no Canadá. Dessas, 13 linhas ferroviárias servem as áreas metropolitanas de Montreal, Toronto e Vancouver;
Brasil – as ferrovias brasileiras conectam o Quadrilátero Ferrífero (sul de Minas Gerais), outros centros de siderurgia e mineração, polos industriais e áreas agrícolas do País (principalmente da Região Centro-Oeste) a importantes portos. Com isso, os produtos podem ser escoados até os portos de Santos (SP), Itaqui (MA), Vitória (ES) e Rio de Janeiro (RJ).
Principais desafios e ponto de melhoria na malha ferroviária do Brasil
Fica claro que a melhoria da malha ferroviária brasileira geralmente inclui investimentos federais e incentivos estaduais e locais, além de ações do setor privado para promover o transporte ferroviário.
No entanto, essas ações precisam ser realizadas com cautela e inteligência. Aplicações financeiras sem planejamento não produzirão os resultados esperados.
Além do Marco Legal, é necessário um projeto para identificar rotas através dos centros de produção nos países e conectá-las aos portos.
Já existem algumas linhas nesses locais que precisam de revitalização, assim como uma expansão da malha ferroviária é fundamental.
A segunda etapa do investimento é focar na construção de uma malha ferroviária que atravessa o Brasil de norte a sul. Com isso, poderia ser feita uma integração mais eficiente com outros modais utilizados no país, como o rodoviário.
Afinal de contas, o transporte ferroviário do mundo está conectado e possibilita o desenvolvimento de países, que criam rotas comerciais mais amplas dentro de seu território, o que pode ser uma realidade no Brasil.
O que acha de se aprofundar no assunto? Recomendamos a leitura do artigo “5 passos para reduzir custos no transporte ferroviário de cargas”.